Edgar Morin desenvolveu esse conceito que religa as disciplinas durante a vida. Ele é um complemento da interdisciplinaridade, essencial para a educação. Saiba mais!
O pensamento complexo (também conhecido como teoria da complexidade, epistemologia da complexidade ou apenas complexidade) é um conceito desenvolvido pelo filósofo francês Edgar Morin, atualmente com 99 anos, e é a capacidade de interligar diferentes dimensões da realidade. Ao longo da sua vida, Morin teve contato com diversos saberes que deram origem ao pensamento complexo.
A complexidade de Morin é diferente da holística, que foca na totalidade, mas diz que o todo é mais importante do que a soma das partes. Já o pensamento complexo diz que o todo é mais e menos que a soma das partes; é um equilíbrio, pois existem momentos em que a totalidade é importante, mas há aqueles em que a parte é mais fundamental.
Essa teoria busca se adequar às exigências do mundo moderno e sinaliza a importância de reconectar os conhecimentos, fazendo com que os estudantes tenham a capacidade de acessar o que é específico sem perder de vista o todo.
Ou seja, essa capacidade é oposta à fragmentação do conhecimento em disciplinas mais específicas, que podem ser vistas nas escolas e em outras áreas da vida. Assim, o filósofo promove uma abordagem transdisciplinar como forma de integrar a compreensão e os estudos de um objeto em sua realidade, unindo elementos que passam entre, além e através das disciplinas.
Lembrando que tudo isso não deixa de lado as especificidades das partes que formam o todo. A complexidade vem de três teorias: Teoria dos Sistemas, da Informação e Cibernética. Além disso, o conceito é baseado em três princípios que são capazes de rearticular os conhecimentos e alcançar a solução. Veja quais são eles:
- O dialógico acolhe a contradição. Morin diz que algumas contradições são insuperáveis. Esse conceito discute a dialética (em que na síntese se resolve um problema).
- O recursivo, uma ação que gera uma causa que forma outra ação, e assim sucessivamente, seguindo a ideia de interconectividade. Dessa forma, é possível modificar o sistema.
- O hologramático, que consiste em conhecer e compreender a parte pelo todo e o todo pela parte.
Morin critica os modelos de pensamento e de ciência atuais da sociedade, que surgiram com base nas ideias de René Descartes. O filósofo propõe que o pensamento complexo e transdisciplinar seja o substituto de um pensamento linear e fragmentado. Quando o assunto é a educação nas escolas, Morin defende um ensino que tem como base grandes ideias vinculadas aos menores objetos de conhecimento.
O pensamento complexo possibilita que professores trabalhem o conteúdo sob vários olhares e em diferentes contextos. Essa teoria se completa com a ideia da interdisciplinaridade.
Como o pensamento complexo aparece na educação?
No ensino, as diversas ciências criaram uma fragmentação para conseguirem se desenvolver conforme as novidades da área e a evolução da tecnologia. Porém, com o passar do tempo, a educação ficou muito focada nessa nas partes, perdendo a noção do todo.
Em relação à educação, o filósofo francês mergulha na área no fim da década de 1990, quando é convidado pela UNESCO a pensar em como será a educação do novo milênio. Nessa virada, as escolas estariam diante de um mundo mais complexo, por isso era necessário pensar no que a educação estava precisando para o futuro (o presente em que vivemos).
O papel do pensamento complexo na educação é cumprir a religação dos saberes, já que a complexidade vai integrar os diversos tipos de pensamento. Na prática, é aplicada a ideia de transdisciplinaridade, ou seja, o conhecimento não deve ficar fechado em uma caixa, mas deve ir além e fazer mais sentido com a realidade em que vivem os alunos.
Um caminho que as escolas podem seguir para desenvolver o pensamento complexo dos alunos, é aplicar atividades em sala de aula que expandem a imaginação, a interatividade e a relação com os colegas. Nessas atividades, é importante debater sobre assuntos da sociedade de forma criativa e atrativa aos estudantes. Pode ser com rodas de conversa, peças teatrais ou a leitura de livros, por exemplo.
Morin faz um conjunto de reflexões sobre o que as escolas não estavam oferecendo e esquematiza sete saberes necessários na educação do futuro.
Não são conteúdos, mas ideias que auxiliam o caminho do ensino nas instituições, que podem ter sido deixados de lado durante o processo de fragmentação das ciências. Alguns desses saberes são: enfrentar a cegueira do conhecimento; os princípios do conhecimento pertinente; ensinar a condição humana; enfrentar as incertezas; e a ética do ser humano.
Texto: Centro Dom Bosco.